Faça sua pesquisa aqui:
Entrevista com o Sacerdote Pai Guimarães de Ogun (Presidente da ABRATU – Associação Brasileira dos Templos de Umbanda e Candomblé e de religiões Afro-Brasileiras)
“As transformações importantes a nossa vida sempre são acompanhadas de algum tipo de sofrimento.” (site Tempo de Umbanda Cantuá dos Orixás)
A Umbanda é uma religião inserida na cultura brasileira e é estruturada moralmente pelos princípios da fraternidade, caridade e respeito ao próximo. Admite um deus chamado Zambi, que é o criador de tudo e de todos. Seus adeptos, chamados de “umbandistas” ou também de “filhos de fé”, cultuam divindades denominadas Orixás e reverenciam espíritos chamados Guias. Sua orientação espiritual ou doutrinária é feita pelos Guias – espíritos que atuam na Umbanda sob uma determinada linha de trabalho que, por sua vez, está ligada diretamente a um determinado Orixá. Os guias têm consciência da natureza humana e os atributos para que essa humanidade possa evoluir e seguir por um caminho melhor. Eles se manifestam através da mediunidade dos médiuns, sendo a prática da incorporação a matriz do trabalho deles – ato pelo qual uma pessoamédium, inconsciente, consciente ou semiconsciente, permite que espíritos falem através de seu corpo físico e mental. O Candomblé é uma religião originária da África, trazida ao Brasil pelos africanos escravizados na época da colonização brasileira. Os Orixás são arquétipos de uma atividade ou função e representam as forças que controlam a natureza e seus fenômenos, tais como a água, o vento, as florestas, os raios etc.. Candomblé é uma religião monoteísta, embora alguns defendam que cultuam vários deuses.
Existem no Candomblé algumas vertentes conhecidas como nações e em cada uma delas seu deus único recebe diferentes nomenclaturas: Olorum para a nação Ketu, Zambi para a Bantu e Mawu para a Jeje. Elas são independentes na prática diária e, em virtude do sincretismo existente no Brasil, a maioria dos seguidores considera como sendo o mesmo Deus da Igreja Católica. Cada Orixá tem um dia da semana a ele consagrado, sexta-feira é dia de Oxalá, a divindade da Criação, e branco é a sua cor. Ele é sincretizado com o Nosso Senhor do Bonfim, padroeiro da cidade do Salvador. O sincretismo entre o candomblé e a religião católica foi uma forma de defesa visando à preservação da religião proibida pelos escravocratas. Também é denominado candomblé o templo em que são realizados os ritos e cerimônias. De acordo com os dados da ABRATU, há no Estado de São Paulo o registro oficial de mais de 2.300 templos de Umbanda e Candomblé com número de adeptos que varia de 20 a 300 pessoas, sendo em média 60 adeptos por templo. A ABRATU é classificada como a 5ª instituição em tempo de existência e a 3ª em estrutura. O Estado conta com 52 instituições que atuam da mesma forma que a ABRATU, sendo que a menor conta com 20 templos associados. Estima-se que em São Paulo o número de adeptos seja aproximado aos 600 mil, sem contar os simpatizantes e frequentadores esporádicos, que fazem parte de outras religiões mas buscam em vários templos algum tipo de apoio e orientação. Cerca de 12% a 18% da população brasileira participa de reuniões em templos onde entidades, com variações na apresentação e identidades, são recebidas, seja na Umbanda, Candomblé ou outras. Para a Umbanda e o Candomblé, o sexo tem dupla finalidade. É um recurso da vida para sua própria perpetuação na carne, e também uma forma de unir pessoas de sexos opostos, proporcionando-lhes o prazer físico e a comunhão espiritual por meio de laços fortes. Quanto ao momento em que ele deve acontecer, só sob as bênçãos do casamento civil e religioso, e com as pessoas conscientes de seus deveres, tanto conjugais como os extraconjugais.
Para os adeptos destas crenças não há preconceitos contra a ciência moderna, desde que sejam respeitados os limites quando se trata de vida. Tanto o Candomblé como a Umbanda mesclam essa “confusão” organizada por algumas religiões que condenam o avanço da ciência. Segundo eles, não se sabe quando termina a religião para se iniciar a filosofia de vida e, logo após, falando de ciência, rotação de elétrons, difração magnética, interferência construtiva. É característico destas religiões saber miscigenar tudo, desde ciência à religião, de uma forma harmônica. Em breve explicação, Pai Guimarães esclarece que a Umbanda e o Candomblé são religiões que trabalham a energia natural presente na natureza, que é a força do divino presente na terra e a espiritualidade. Segundo ele, nós somos energia pura manifestada numa carne na Terra, e a santa trindade se representa pela natureza, espírito e encarnação. Segundo ele, tanto a Umbanda como o Candomblé não impõem dogmas. Entende-se que quando você está aqui na Terra é para viver suas emoções, provações e tentações, e para enfrentar suas fraquezas, dificuldades e caminhar. Aquilo que é certo para alguns é errado para outros. Ele ressalta que não temos como determinar ou impor a verdade a ninguém; baseado nesse parâmetro, que cada um siga sua vida. Quanto aos tratamentos de reprodução humana, na opinião dele a mulher tem todo o direito de sentir o prazer de ser mãe, pois existem vários fatores como uma dificuldade física provocada, talvez não por conta dela, e sim por conta de uma vida degradada da mãe ou do pai ou uma dificuldade na sua formação durante sua juventude. Para ele, não importa a questão, o que importa é que para os adeptos da Umbanda e do Candomblé existe uma lei do merecimento. Caso a pessoa não mereça, não existe tratamento, ou alternativa que fará com que a mulher seja mãe, ou que o homem seja pai. Não há ciência que irá conseguir romper a barreira do merecimento. Ele cita exemplos de pessoas que alcançaram milagres considerados impossíveis pela ciência por conta de seu merecimento, mulheres que eram inférteis e hoje são mães. Em sua visão, para os praticantes da Umbanda e Candomblé nada é ao acaso, se o homem está descobrindo pela ciência a oportunidade para trazer a felicidade, a alegria, o prazer e a missão a uma pessoa, então é porque existe a permissão do divino, caso contrário, isso não aconteceria. Deus criou o homem, o universo e a terra baseados no princípio universal que é respeitado por quase todas as religiões, o livre arbítrio. Deus não impõe a nós condições, como amá-lo, respeitá-lo ou segui-lo, e sim coloca o livre arbítrio que é a liberdade de escolha, e conforme as suas ações, seu comportamento, sua postura, você irá colher na sua vida os seus merecimentos, que nem sempre é algo que você tenha escolhido. O Sacerdote declara que as técnicas como o coito programado, a inseminação artificial e a fertilização in vitro são aceitas pela Umbanda e o Candomblé, e para ele isso é uma unanimidade dentro das duas crenças.
A doação de embriões, segundo as duas religiões, também não é proibida. Na opinião dele, simplesmente o procedimento faz com que a semente de Deus possa gerar uma vida. Na visão espiritual da Umbanda e do Candomblé, a vida nasce depois da formação do feto, por eles chamada de cruzamento de energia. Em sua opinião, o livre arbítrio para compartilhar e enraizar de alguma forma algo de si mesmo, é uma forma de dar sua contribuição aqui na terra. Pai Guimarães afirma que a humanidade acabou evoluindo e chegando onde chegou pelo desprendimento do que os outros irão pensar. Quantas pessoas nos tempos antigos foram tachadas de loucas por conseguirem invenções que eram absurdas na época, e que hoje graças à iniciativa e a coragem delas de se doar de tal forma, temos avanços e mais avanços na natureza e na humanidade. “Essa doação espontânea de uma vida a outra pessoa que irá trazer felicidade é comparada por nós, umbandistas e candomblés, a uma missão determinada pelo divino aqui na Terra, e não pode ser condenada, pois traz a felicidade”, diz ele. Quanto ao processo de congelamento de óvulos e embriões, as doutrinas Umbanda e Candomblé também não são contra. Isso envolve o mesmo princípio, sendo um procedimento que mais para frente irá gerar uma vida, e caindo na mesma situação. Para ele, a doação de sêmen, óvulo ou embrião é permitida e o fato de congelar para usar algum tempo depois, ou até mesmo pra doar pra outra pessoa, vai gerar uma vida de qualquer forma, futuramente. Para a Umbanda e o Candomblé, o sêmen e o óvulo não são considerados vida e sim uma semente que irá se tornar um ser vivo. “Isso é geração de vida, então, nós temos que estimular.” finaliza o sacerdote.