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Entrevista com Frei Antonio Moser – Professor de Teologia Moral e Bioética no Instituto Teológico Franciscano
Entrevista realizada por meio da assessoria de imprensa “Comunicação Livre”, enviada por e-mail
Considerada a religião que tem maior número de adeptos no Brasil, o Catolicismo é uma das vertentes do Cristianismo. Baseia-se na crença de que Jesus foi o Messias, enviado à Terra para redimir a humanidade e restabelecer nosso laço de união com Deus, surgindo o Novo Testamento, ou Nova Aliança. Um dos mais importantes preceitos católicos é o conceito de Trindade, ou seja, do Deus Pai, do Deus Filho (Jesus Cristo) e do Espírito Santo. Estes três seres seriam ao mesmo tempo um só. Existem os chamados Mistérios Principais da Fé, os quais constituem os dois mais importantes pilares do Catolicismo. Eles são: a Unidade e a Trindade de Deus, a Encarnação, a Paixão e a Morte de Jesus. O Catolicismo é uma doutrina ligada ao Judaísmo. Seu livro sagrado é a Bíblia, dividida em Velho e Novo Testamento.
Do Velho Testamento, que corresponde ao período anterior ao nascimento de Jesus, o Catolicismo aproveita não somente o Pentateuco (livros atribuídos a Moisés), mas também agrega os chamados livros “deuterocanônicos”:
Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, Macabeus e alguns capítulos de Daniel e Ester. Esses livros não são reconhecidos pelas religiões protestantes.
O termo “católico” significa universal, e a primeira vez em que foi usado para qualificar a Igreja foi no ano 105 d.C., em uma carta de Santo Inácio, então Bispo de Antioquia. No século 2º da Era Cristã, o termo voltou a ser usado em inúmeros documentos, traduzindo a ideia de que a fé cristã já se achava disseminada por todo o planeta.
No século 4º d.C., Santo Agostinho usou a designação “católica” para diferenciar a doutrina “verdadeira” das outras seitas de fundamentação cristã que começavam a surgir. Mas foi somente no século 16, após o Concílio de Trento (1571), que a expressão “Igreja Católica” passou a designar exclusivamente a Igreja que tem seu centro no Vaticano. O Concílio de Trento aconteceu como reação à Reforma Protestante, incitada pelo sacerdote alemão Martin Lutero.
Segundo dados socioeconômicos dos censos demográficos do IBGE, o percentual de brasileiros católicos está diminuindo desde o primeiro estudo, em 1872, e caiu de forma acelerada na década de 1990, quando o retrocesso foi de um ponto percentual anual. Em 1872, 99,72% dos brasileiros eram considerados católicos, taxa que caiu para 82,24% em 1991, quando a queda se acelerou, para chegar a 73,89% em 2000.
Na década de 1990, uma queda em aceleração mostrou que a porcentagem de católicos no Brasil se estabilizou com o novo milênio e, em 2003, último ano sobre o qual há dados, a taxa alcançou 73,79% da população.O retrocesso da religião católica na década passada se registrou por causa de um crescimento dos cristãos evangélicos, que de 9% em 1991 passaram a constituir 16,2% da população em 2000. O que caiu, entre 2000 e 2003, foram os sem religião, que eram 7,4% em 2000 e 5,1% em 2003, exatamente o mesmo nível de 1991. A história mostra a substituição dos sem religião por evangélicos, pentecostais e tradicionais.
O estudo, baseado em censos oficiais de 2002 e 2003, também indicou que os católicos, sendo 73,8% da população, apenas contribuem com 30,9% das doações feitas às igrejas. Algumas das razões para essa diferença podem ser o celibato a que estão obrigados os sacerdotes católicos e o fato de deverem dedicar cerca de nove anos para se formar, enquanto um pastor evangélico o faz entre três e quatro anos.
A Igreja Católica, quando fala de sexualidade e do relacionamento afetivo e amoroso do casal, recorre a uma linguagem delicada, às vezes poética ou simbólica, como o faz a Bíblia em passagens, mas é clara nos seus objetivos: há relacionamentos permitidos, outros desaconselháveis e outros proibidos. Os proibidos, segundo a Igreja, não são a resposta apropriada para a dignidade da pessoa, da mente e do corpo ou não contribuem para o crescimento do amor.
E há os que vão ou não vão contra a finalidade do sexo. Por isso, a Igreja permite ou proíbe. Acusam a Igreja de se envolver na vida íntima do casal e dizer a eles que, se pretendem ser um bom casal católico, não podem se amar desta ou daquela forma. Oficialmente, para a Igreja Católica, não importa se ao falar das relações entre o casal a sua posição é popular ou não. Em sua doutrina sobre a sexualidade, nem mesmo para o casal é tudo válido entre quatro paredes.
Visto como insensibilidade ou risco de perda de fiéis, a Igreja, contudo, mantém sua opinião. O adjetivo conservador não pode ser aplicado a algum grupo apenas porque mantém seu ponto de vista – outros mantêm seu ponto vista favorável e nem por isso são conservadores. Optar por apoiar o sexo sem nenhum limite não é necessariamente ser futurista. Para a Igreja Católica, a ciência não pode ser temida, nem poderia, pois é ela que traz à luz as verdades latentes da natureza, que é obra de Deus. Está relacionada com a mente de Deus, que é criador, logo, não poderia entrar em oposição à verdade da fé. Por essa razão, a Igreja incentiva o trabalho dos cientistas e aprecia o valor de suas pesquisas.
Quando os cientistas chegam à conclusão de que é possível desenvolver terapias altamente promissoras para a medicina, isso para eles merece admiração e aplauso, assim como a possibilidade de alcançar a cura de doenças graves a partir de pesquisas que demoram anos. Tanto a ciência como a religião originam-se desta sede humana de desvendar os segredos do universo que nos envolve.
A Igreja Católica não deseja, em hipótese alguma, deter o progresso da ciência. Assim procedendo, recorda ao cientista que não se pode fazer como Deus, mas é sua missão colocar a ciência a serviço da vida. A Igreja não pode ir contra a revelação da Sagrada Escritura, deve de todos os meios proclamar que o homem tem uma origem divina. A imagem e semelhança de Deus é uma dignidade que nem a ciência pode violar.
A Igreja apoia e incentiva todo o progresso científico que contribua para uma melhoria na qualidade de vida biológica dos seres humanos. Ao mesmo tempo, não aceita qualquer experimento que venha a ferir o caráter sagrado da vida criada por Deus. Não é legítimo fazer o mal com o objetivo de alcançar um bem. A ciência não pode ter somente uma dimensão técnica, um interesse pontual, como pode ser o de necessitar de células estaminais e fazer, por isso, o que bem entende. Ela não pode perder de vista que está trabalhando com seres humanos, e isso tem uma dimensão muito grande, porque não é um órgão, mas um organismo.
Segundo a Igreja Católica, se não houvesse fé não existiria a ciência, pois não se teria de onde retirar possibilidade de estudos para montar diversas teorias sendo que, para a fé, só Deus teria a explicação definitiva para esse mistério. Não é de se estranhar que a Igreja Católica sempre teve uma postura objetiva quando se trata de assuntos que envolvam alguns preceitos de caráter moral, como é o caso de questões como a sexualidade e pesquisas cientificas. E não seria diferente com os tratamentos voltados à medicina da reprodução. Isso não quer dizer que o Catolicismo seja contra tudo. Porém, quando se trata de temas que exigem um certo cuidado, é nítido que há um consenso padrão para não criar divergências, ou acabar entrando em contradição com os dogmas da religião que foram estabelecidos desde o início do Cristianismo.
Segundo a entrevista concedida por Frei Moser, Professor de Teologia Moral e Bioética no Instituto Teológico Frasciscano, a Igreja sempre viu os filhos e filhas como dom de Deus. Por isso mesmo vê com bons olhos as tentativas que são feitas para superar a infertilidade. Ela se alegra com as conquistas na linha de diagnósticos e terapias, no sentido restrito da palavra. O que ela não pode aceitar é a mecanização da vida. Ou seja: sempre se pressupõe que as terapias subsidiem, mas não substituam o casal. Para ele, o procedimento do coito programado está plenamente de acordo com o que a Igreja há muito vem pregando: nada contra um planejamento familiar com métodos que não mecanizem a transmissão da vida. Essa sempre deve ser a expressão concreta de um gesto de amor. Para o Frei, os procedimentos acima não apenas são aceitáveis, como louváveis, pois correspondem ao justo desejo de acolher uma vida respeitando os processos normais. A Igreja se alegra com os avanços tecnológicos em todos os campos. Entretanto, acredita que nunca a tecnologia nela mesma vai trazer sozinha a solução para os problemas humanos. Não que sejam contra aos laboratórios, muito menos os especialistas que se dedicam a auxiliar os casais.
A questão de fundo é a da mecanização da vida, seja na fase inicial, seja na fase final. Frei Moser explica que é claro que é difícil compreender esse “não” da Igreja em relação a todos os procedimentos de reprodução, pura e simples da vida em laboratório, exceto o coito programado. Para entender o posicionamento da Igreja nesse particular, convém ter presente o sentido da “fecundidade”. Em se tratando de seres humanos, fecundidade não é sinônimo de reprodução.
Há muitos casais que produzem muitos filhos, mas não são fecundos, por não se amarem. Há casais estéreis que são extremamente fecundos: irradiam alegria, dedicam- se a todo tipo de atividade que traz mais alegria e mais vida para o mundo. É significativo que nos momentos críticos da história da salvação vamos encontrar pessoas estéreis: Sara, de Abrão, Elcan, de Ana, Isabel e Zacarias, pais de João Batista: Deus se serve de pessoas aparentemente estéreis para mostrar que Ele é a vida e quem vive com Ele é fecundo, tendo ou não filhos biológicos.
Para a Igreja Católica, ser estéril não é uma maldição. Não ter filhos carnais pode ser uma bênção. É o caso dos celibatários. No caso de um casal querer mesmo ter filhos, o caminho indicado é o da adoção, afinal, há tantas crianças esperando por um lar... Segundo ele o problema não é como fazer depois: o problema é anterior. “Uma vez colhidos espermatozoides e óvulos, e ainda mais depois de uma fecundação, nos encontramos num beco sem saída. Ninguém tem e nunca terá uma resposta, a não ser aquela dada acima: não arme problemas para os quais depois não se encontra solução”.
E, para finalizar, o Frei Moser conclui: “Todas essas questões são de extrema atualidade. Sabemos dos grandes benefícios que os avanços nos conhecimentos genéticos e biotecnológicos podem prestar à humanidade. Assim também sabemos dos benefícios que podem se originar dos laboratórios destinados ao que se denomina reprodução assistida. Com isso, são louváveis os esforços dos pesquisadores que têm procedimentos realmente éticos, no caso, limitando-se a ajudar e nunca a substituir a união do homem e da mulher”.
Para o Frei, a vida é um dom precioso e só uma atitude de admiração reverente diante dela, em qualquer etapa e em qualquer manifestação, é eticamente justificável. Está na hora de todos juntos, teólogos, filósofos e pesquisadores mergulharem mais profundamente nos mistérios da vida. A Igreja Católica não é a Igreja do “não”. Mas ela quer proclamar o Evangelho da vida. Sem esse evangelho, em vez de humanização, cairemos em procedimentos sempre mais desumanizantes.