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Entrevista com Rev. Aldo Quintão, Deão (chefe do colégio de cardeais) da Catedral Anglicana de São Paulo
A Igreja Anglicana busca equilibrar a tradição católica com as influências benéficas da reforma protestante. Por isso, ela é essencialmente católica, mas também reformada. A liturgia preserva a mais antiga estrutura de culto cristão, com grande ênfase na proclamação da Palavra de Deus. O Anglicanismo dá valor à Liturgia, definindo crenças e doutrinas no próprio manual litúrgico (o Livro de Oração Comum). O Anglicanismo chegou ao Brasil no século 16, em duas etapas: com os imigrantes ingleses que aqui se estabeleceram a partir de 1810 e por meio do trabalho de missionários norte-americanos a partir de 1889. O cristianismo chegou às ilhas britânicas no final do primeiro século, levado por cristãos que fugiam das perseguições. Ali, a Igreja Cristã foi estabelecida inicialmente entre os celtas, que enviaram três bispos ao Concílio de Arless, em 314 d.C. Em 596, o bispo de Roma, São Gregório Magno, enviou missionários para evangelizar o sudeste da Grã-Bretanha, região conhecida por Kent, onde habitavam os anglo-saxões.
Essa missão foi liderada pelo bispo Agostinho, que estabeleceu em Cantuária as primeiras comunidades subordinadas ao bispo de Roma. A partir de então, houve um gradativo processo de avanço da Igreja de Roma nos territórios celtas até que, em 664, a Igreja Celta submeteu-se ao governo da Igreja Romana, adotando parcialmente seus ritos, mas mantendo diversas tradições celtas e britânicas. O povo britânico, porém, nunca concordou com a submissão ao poder romano. Assim, em 1534, a Igreja Anglicana voltou a separar-se da Igreja Romana por decisão do Parlamento, após iniciativa do Rei Henrique VIII.
A partir de então, o anglicanismo deixou-se influenciar positivamente pelo movimento da Reforma, sem deixar de preservar as mais puras e sadias tradições. De acordo com a Igreja Anglicana, a Bíblia declara que a sexualidade é uma criação de Deus para ser celebrada. Na visão dos Anglicanos, a união sexual é uma dádiva de Deus para ser gozada exclusivamente dentro dos vínculos do matrimônio, que une marido e mulher. Assim como todas as dádivas, dever ser regida como os mandamentos de Deus. O sexo tem um poder particular sobre os seres humanos, e a santidade sexual permite que esse poder seja usado para o bem, enquanto sua falta leva a consequências desastrosas. A elaboração bíblica e teológica da compreensão tradicional sobre a sexualidade humana tem sido bem feita em diversos lugares.
A Igreja Anglicana acredita que em cada lugar e em cada época a fé cristã tem uma missão à cultura que a cerca. No Ocidente, valores da liberdade humana e do individualismo têm dominado a cultura. Entre as consequências estão o enfraquecimento da vida familiar e o abandono da autodisciplina. Na concepção anglicana, quando os seres humanos abandonam a santidade sexual, a Igreja deve adverti-los sobre o julgamento de Deus sobre isso, assim como todos os pecados, e ajudá-los a retornar aos caminhos de Deus. “A Comunhão Anglicana é uma ‘democracia eclesiástica’ oriunda culturalmente do pensamento liberal e ao mesmo tempo colonialista dos britânicos, que marcaram a nossa maneira de ser. Não temos uma autoridade concentrada e vertical representada por uma Cúria ou um Papa. Desse modo, ninguém pode falar em nome da Igreja Anglicana.
Ela representa 38 províncias autônomas espalhadas pelo mundo e que se reúnem periodicamente, com pessoas devidamente eleitas, para trocarem experiências e firmar seus laços de solidariedade e fraternidade. Portanto, nossa Igreja é uma autoridade diluída e partilhada que mostra tendências e não dogmas ou definições finais; logo, o princípio básico para considerações morais é o do amor”, explica o Reverendo Aldo Quintão. Assim, respeitando a ciência que se desenvolve para o benefício da humanidade, a Igreja Anglicana procura suscitar e não julgar o que é desenvolvido para a evolução tecnológica. Segundo ele, apontar uma posição favorável ou contrária seria responder por todos os fiéis que seguem a doutrina anglicana, fato esse que não pode ser decretado, pois até mesmo dentro na “democracia eclesiástica” existem grandes divergências de opiniões, que certamente são respeitadas. Sobre os métodos para engravidar, Aldo Quintão explica: “Apesar da palavra ‘coito’ não ser muito adequada para descrever uma relação sexual entre seres humanos, apoio essa relação programada, pois a intenção planejada de ter filhos envolve um ato de amor que em muitas vezes inexiste numa relação não programada”.
“Sou favorável a tudo o que a ciência aprimora para a felicidade do ser humano, sou a favor das células tronco, de alguns métodos da medicina de reprodução e indico aos fiéis da igreja que se encontram aflitos diante dessa situação. Tudo que se gerar com amor e trouxer felicidade ao casal é bem visto aos olhos de Deus”, diz Reverendo Aldo. “A Igreja Anglicana não se pauta por respostas finais sobre questões éticas referente ao assunto medicina da reprodução, pois diante do que vemos, nossa preocupação é se o que se faz está em ligação com nossa liberdade de escolha, sendo para o bem da humanidade”, finaliza.