Faça sua pesquisa aqui:
Entrevista com o Bispo Stanley da Silva Morais, da Igreja Metodista do Brasil
“Não vos inquieteis com o dia de amanhã; basta ao dia seu próprio mal.” (Mt. 6:34)
Ao observar o símbolo que identifica a religião Metodista, poucos sabem a história de fé que o desenho representa. O movimento Metodista surgiu na Inglaterra em 1738, com a necessidade despertada em John Wesley pela renovação de suas crenças. Baseando-se na modificação da doutrina Anglicana, Wesley buscava a vivência na santidade individual e social. A mensagem de conversão individual e a transformação da sociedade causam o crescimento do movimento, resultando na fundação da Igreja Metodista. Segundo pesquisas em números, o Metodismo se faz presente em 130 países. No mundo, os metodistas somam 12 milhões de membros. Atualmente, os números no Brasil são de aproximadamente 350 mil membros, 630 Igrejas, 593 Congregações e 508 Pontos Missionários.
Apesar da formalidade que os protestantes transmitem e da origem do nome metodista na palavra metódico, existem muitos outros conceitos imbuídos nessa religião, por muitos desconhecidos e que não a torna contrária a certos conceitos morais, como erroneamente se deduz, inclusive em assuntos mais polêmicos como sexualidade e suas ramificações. O sexo é visto pelos metodistas como uma forma de alegria onde as reações do corpo satisfazem o convívio de um casal e a consumação do amor que um sente pelo outro. Os metodistas não aceitam o sexo meramente como instrumento de procriação da raça humana, e sim como algo divino.
Em sua visão, o sexo é fruto do amor e este amor possibilita a constituição de uma família feliz. Porém, esse sonho pode ser impedido por algum tipo de dificuldade do casal, como a infertilidade, por exemplo, e, nesse caso, a ciência oferece métodos para o tratamento dessas dificuldades. Segundo entrevista com o Bispo Stanley da Silva Morais (Igreja Metodista do Brasil – Sede Nacional), os tratamentos para reprodução assistida, desde que dentro dos princípios éticos cristãos, são aceitos e também recomendados pela igreja. Ele ressalta ainda que tudo que a ciência oferece de recurso, se for para a felicidade do individuo, é válido e aceito pelo Metodismo.
De acordo com o Bispo, o coito programado é um método que já foi muito utilizado no passado ajudando a muitos casais, assim, ele não vê restrições aos que quiserem utilizá-lo. A Igreja Metodista recomenda e frisa que o planejamento familiar é uma coisa boa e este tratamento pode ser parte desse planejamento. Para ele, a sexualidade não está exclusivamente ligada à procriação; é uma área da vida do casal que merece ser cuidada, utilizando-se os melhores recursos disponíveis. Na visão do Bispo, nada substitui o calor humano de uma relação conjugal, este é o caminho natural; porém, caso necessário, a alternativa é buscar meios diferenciados para que se possa atingir o objetivo maior. Assim, a inseminação artificial é valorizada, e ele entende que muitas pesquisas foram feitas para que casais superassem suas limitações e impossibilidades. Ressalta ainda que o conhecimento científico é um dom de Deus, e próprio de sua criação. “A ciência descobre o que já existe”, diz o Bispo. Para ele, o casal que enfrentar dificuldades para gerar um filho, mas estiver imbuído de amor, pode escolher essa técnica sem constrangimentos. A falta do calor humano no momento da concepção pode ser compensada por uma vida saudável, em que o amor se expresse abundantemente.
Quanto à fertilização in vitro, o Bispo apresenta formalmente a palavra do Colégio Episcopal da Igreja Metodista: “A Igreja entende que, apesar dos benefícios, os riscos são grandes”. A Igreja não condena a utilização do método, mas indica que apenas seja escolhido caso as técnicas anteriores se mostrarem ineficazes. Para os metodistas, o casal precisa se conscientizar que se afastando do caminho natural terá mais situações adversas a vencer. Para enfrentá-las terá que estar mais solidamente em comunhão com Deus e o próximo. Segundo o representante da Igreja Metodista, a Palavra de Deus nos diz que “tudo é possível ao que crê”, sendo possível ser gerada uma pessoa com vida plena.
Para expor sua opinião quanto ao procedimento de congelamento de óvulos e embriões, ele cita um dizer de Jesus: “Não vos inquieteis com o dia de amanhã; basta ao dia seu próprio mal” (Mt. 6:34). Para eles, a pessoa precisa saber viver o seu próprio dia, e o futuro não nos pertence. Segundo o Bispo, aprender a viver bem cada dia contribui para que a família humana viva melhor na Terra. Segundo ele, se a ciência descobriu recursos para que a vida seja preservada, melhorada, qualificada, ela vai colocando diante da sociedade e da pessoa a tentação de não só viver o melhor, como garantir que no futuro alcançará aquilo que hoje lhe é impossível. Como quem abre mão do presente para viver o futuro, quando for curada, ou quando achar a alma gêmea, ou quando entrar na menopausa. Na visão dele, essas pessoas não vivem nem o presente, nem o futuro.
Quanto à doação de embriões, sêmen e óvulos, o Bispo explica que não pode dar a opinião da Igreja Metodista. Para ele, este assunto ainda é muito novo e restrito a uma pequena roda da sociedade. Mas acredita que a vida é o maior dom do universo e, segundo a visão Metodista a ciência descobriu poucas opções. Segundo o Bispo, nesse contexto, o caminho é fazer uma das opções existentes da medicina atual. Dentro dos princípios que possuem, veem como o melhor caminho o congelamento desses embriões, considerando que é responsabilidade do casal cuidar dos gerados.
Segundo o representante dos metodistas, Deus nos fez homem e mulher, formando a família humana. Portanto, ultrapassar esse limite e oferecer o gerado para uma “terceira” pessoa, quebra esse princípio. A questão da geração de filhos não é individual, mas de um casal numa sociedade, e o princípio deve ser aberto a fim de se preservar a vida em situações em que ele foi desrespeitado. Mas neste caso, tratam como exceção.