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Entrevista com Reverendo Carlos Aranha Neto (Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo)
“A fé não consiste na ignorância, mas no conhecimento.” (João Calvino)
Os milhões que aceitam a fé reformada creditam a Calvino a mais importante fundamentação doutrinária do movimento que abalou, no século 16, as estruturas de poder do Catolicismo romano. A esta fundamentação deu-se o nome de Calvinismo, e à forma de organização eclesiástica concebida pelo reformador de Genebra, de Presbiterianismo, que transformou a cidade suíça no modelo de execução de suas ideias.
Calvino ensinava que a salvação é um assunto de eleição incondicional e independente do mérito humano. Os pressupostos da fé reformada foram trazidos para Genebra pelo francês Guilherme Farel, que com seu carisma profético convenceu a assembleia municipal da cidade a aceitar a fé reformada. Farel se tornaria grande amigo e colaborador. Juntos promoveram a reforma da igreja local, estendendo-a para a sociedade.
Na Genebra de Calvino e Farel não havia separação entre Igreja e Estado; os membros do conselho da Igreja eram praticamente os mesmos membros do conselho municipal. Assim, em muitos momentos, as penalidades tornaram-se severas demais. Em 1546, o conselho da cidade executou 28 pessoas e exilou outras 76. A maior contribuição de Calvino para a fé reformada foram suas Institutas, aceitas como expressão acabada da teologia reformada, acentuando a importância da sã doutrina e a centralidade de Cristo na visão cristã.
Calvino deu grande contribuição para o desenvolvimento da democracia no ocidente, aceitando o princípio representativo da direção da Igreja e do Estado, entendendo que a Igreja e o Estado foram criados por Deus e que deviam cooperar para o progresso do Cristianismo. Contrariando a mentalidade medieval, Calvino resgatou a dignidade do trabalho, uma vez que toda a ação dos crentes era para a honra e glória de Deus. Na visão calvinista, no mundo não havia dicotomia entre atividades profanas e sagradas; a vida do crente deveria ser uma extensão da vida no templo. O desenvolvimento econômico foi evidente nas nações modernas que abraçaram a fé reformada.
Quando a Igreja Presbiteriana aborda a questão da sexualidade humana, como cristãos, recorrem em primeiro lugar, à Bíblia. Embora a mensagem bíblica seja a de mostrar o eterno amor de Deus demonstrado na pessoa de Jesus, eles acreditam que ele tem muito a ensinar ao ser humano nas questões relacionadas ao sexo. Segundo a Igreja Presbiteriana Cristã, o sexo deve ser praticado no seio de um matrimônio. A Bíblia é clara ao afirmar que a união entre um homem e uma mulher deve ocorrer somente neste contexto. O adultério, a prostituição e toda forma de imoralidade em geral são condenados por Deus e distorcem seu plano para a felicidade sexual das pessoas.
Embora a cultura e os costumes modernos tentem passar para os cristãos que uma relação sexual entre solteiros ou fora do contexto do casamento não seja errada, a Igreja Presbiteriana aconselha seus fiéis a basearem-se nos inúmeros versículos bíblicos que mostram o contrário. O sexo, segundo a visão cristã Presbiteriana, não tem como objetivo somente a procriação, mas também o prazer. Dentro de seus preceitos, eles acreditam que os casais precisam repensar e explorar a sensualidade que um pode oferecer ao outro, o que muitas vezes, por ignorância, é visto como algo pecaminoso. De acordo com a Igreja Presbiteriana, quando um casal cristão explora a sensualidade para enriquecer a relação conjugal, colhe grandes benefícios. Para tanto, precisam valorizar mais os toques físicos (abraços, afagos afetuosos, etc.), o olfato (perfumes, velas perfumadas), a audição (música romântica, palavras de admiração), a visão (pessoal e do ambiente) e o paladar na relação a dois.
A Igreja Presbiteriana acredita que um bom caminho para os casais cristãos “reinventarem” suas vidas sexuais é fazerem, a dois, uma releitura do livro de Cantares de Salomão. O relacionamento sexual para os presbiterianos deve ser enriquecedor para que ambos, marido e esposa, experimentem todo o prazer que o sexo pode trazer. Para eles, Deus projetou a sexualidade para ser praticada no contexto conjugal, sendo suficiente o bastante para saciar o apetite sexual.
Segundo o Reverendo Carlos, ainda não existe uma manifestação oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil, da qual faz parte a igreja Presbiteriana Unida de São Paulo, sobre o assunto medicina da reprodução. Os princípios bíblicos básicos a respeito da reprodução humana e ao direito inalienável da vida humana, são, porém, inquestionáveis. Voltando ao nível da Igreja Presbiteriana, as opiniões dos seus pastores têm grande valor, mas devem ser limitadas à responsabilidade individual destes. Pessoalmente, ele afirma que essa questão de medicina da reprodução precisa ser reconhecida como algo novo, e em caminho de rápidas evoluções.
Ele declara que o fundamental é o valor da vida humana, portanto são contrários ao aborto, exceto em caso de aborto terapêutico, quando está em risco a saúde da mãe ou quando a gravidez for fruto de um estupro. Assim, se existem técnicas de reprodução humana como os caminhos planejados para a gravidez, consideram tais procedimentos extraordinários, e sinais da aprovação divina. Se tais procedimentos colaboram para assegurar, melhorar, ou conservar a vida, não há restrições que impeçam o tratamento. Para o líder da Igreja Presbiteriana, todas as técnicas da medicina de reprodução assistida, dentre elas, o coito programado, são perfeitamente válidas, pois não existe restrição em prol da vida.
E ainda complementa que tanto a inseminação artificial quanto a fertilização in vitro, são vistas como procedimento médico científico sem interferência no aspecto moral de uma ética religiosa. Se o médico do casal acredita que a única maneira de terem filhos é por estes métodos, não há problemas, e finaliza dizendo: “Que Deus abençoe!”.
Em relação à doação de embriões, o Reverendo diz que não há nenhuma restrição desde que os doadores e receptores tenham plena consciência do que estão fazendo. Espiritual e eticamente, não vê problema algum, desde que dentro do limite do respeito, da dignidade. Porém, salienta que o uso com segundas intenções, com objetivo de multiplicação ou comercial, é uma deturpação, mas acredita que a medicina não caminha por essa área. Ele complementa que se pode comparar essa alternativa como uma adoção, só que em forma de embrião. Para o representante, também não existe empecilho algum do ponto de vista da ética cristã quanto ao congelamento de óvulos e embriões. Porém, uma situação paralela não abordada na pergunta trará dificuldades morais, caso o relacionamento com um homem não envolver os compromissos normais de um casamento. O problema não estaria nessa perspectiva de planejamento e sim na atitude da mulher quanto à utilização dos óvulos ou embriões, como por exemplo, o envolvimento com um homem qualquer apenas com o objetivo da maternidade. Já se, após anos, ela encontrar sua alma gêmea e resolver ter um filho dentro do matrimônio, essa atitude sim é que terá importância mediante a igreja, e não os métodos adotados.
Do mesmo modo ele é favorável à doação de sêmen e óvulos, pois se a doação tiver o propósito de celebrar a vida, com intuito de trazer felicidade para o ser humano, dentro da visão cristã não há problemas. Contudo, novamente ressalta que, caso haja fins comerciais, essa prática é vetada pela igreja presbiteriana.