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Entrevista com o Pastor Dr. Rudolf von Sinner (IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil)
“A ciência sem fé é loucura. E a fé sem ciência é fanatismo.” (Lutero)
A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, sediada em Porto Alegre (RS), teve sua origem no movimento de reforma da igreja iniciado no século 16, protagonizado por Martim Lutero. Em sua descoberta doutrinária, baseada em seus estudos da Bíblia Sagrada, Lutero afirma que o ser humano é salvo por graça e fé e não por obras que se valem de méritos. Os Luteranos são caracterizados por um estilo de vida sem proibições e sem a imposição de regras de comportamento que possam ter como objetivo a obtenção da salvação, já que esta é alcançada por graça, mediante a fé. O luteranismo chegou ao Brasil em 1824, junto com a imigração alemã e, embora tenha permanecido mais concentrado no Sul e Sudeste do Brasil por mais de um século, hoje há comunidades luteranas espalhadas em quase todos os estados brasileiros.
Desde sua origem, a IECLB buscou na comunidade sua base de sustentação mais importante, tendo a vida celebrativa um espaço privilegiado em seu seio. A Palavra de Deus é pregada e os sacramentos são administrados. A Igreja Luterana procura exercitar solidariedade e comunhão no testemunho da fé cristã. Orienta os membros das comunidades e expressa para a sociedade brasileira a sua visão sobre temas e situações desafiadoras. O conteúdo de sua palavra e outros documentos, entre eles o guia prático de vida comunitária, chamado “Nossa fé – Nossa vida”, revela o que pensa, em que crê e como se caracteriza e se articula essa igreja.
A iniciação na vida sexual, segundo a Igreja Luterana, é compatível com a dignidade humana e o amor singular conquistado por seu Deus. Sexo e religião continuam a intrigar as pessoas; porém, aos olhos da doutrina luterana, o sexo é a preservação das relações de amor, e não algo que seja relacionado ao pecado, mas sim um estímulo a uma vivência de liberdade. A Igreja Luterana acredita que cabe à nova geração estudar as escrituras sagradas para entender o que a ética sexual dentro da religião luterana pode ter como referência. Para os luteranos, é primordial a intenção do amor e não a procura de seus próprios interesses de satisfação sexual. Sempre com a preocupação de não se fechar para as novas formas do amor, e entender a complexidade e riqueza que o sexo pode atribuir no relacionamento entre homem e mulher. Na opinião do Pastor Rudolf, embora a IECLB ainda não disponha de um posicionamento oficial acerca dos assuntos referidos, pautados em boa medida por avanços recentes na área da medicina, a visão da igreja quanto ao assunto medicina da reprodução é apresentada, com a concordância do Pastor Presidente da IECLB, Dr. Walter Altmann, refletindo como correto e adequado o estado atual da pesquisa no âmbito dessa igreja, baseada na teologia de confissão luterana. Ele explica que a tradição luterana, como as igrejas cristãs em geral, apoia o bem-estar da família e alegra-se com os filhos oriundos do amor entre um homem e uma mulher. Conhece, por outro lado, as dificuldades que casais podem ter em realizar este sonho. Não há, sob este olhar, nenhum impedimento religioso na observação do ciclo menstrual para facilitar a gravidez, como é o caso do tratamento do coito programado. O Pastor aponta também que não há impedimento algum em apoiar a gravidez por meio da inseminação artificial e da fertilização in vitro, desde que o esperma seja do marido. Ele salienta que, em relação à FIV, a técnica em si não enfrenta resistência no meio luterano, uma vez que é mais uma forma de ajudar um casal que, por uma razão ou outra, não consegue a gravidez por meio do coito.
O líder religioso ressalta que diante de questionamentos éticos relativos aos embriões excedentes para uso em pesquisa, a seleção dos embriões, a análise e eventual modificação genética do embrião in vitro, é preferível que haja o menor número possível de embriões congelados. Para os luteranos, não há problema se forem implantados posteriormente como é o caso do procedimento de congelamento de embriões ou a doação de embriões a outros casais. Rudolf diz que, de fato, um embrião é considerado “vida humana”, embora ainda não seja “pessoa” no sentido pleno, pela falta de relacionamento com a mãe no útero. O embrião e depois e feto adquirem status de pessoa gradualmente, até o atingirem plenamenteno momento do nascimento. Portanto, um embrião exige cuidado e proteção, pois não é simplesmente uma “coisa”, mas também não se pode exigir o mesmo cuidado e proteção que se dá a um bebê nascido. Quanto ao congelamento de óvulos, é uma questão ainda pouco discutida no meio luterano. A princípio, por tratar-se de uma técnica de apoio à gravidez, pode ser considerada positiva. Também evita produzir embriões cujo destino depois faria surgir questionamentos éticos sérios. O óvulo em si ainda não pode ser considerado vida humana. O que pode ser discutido, contudo, é se não há um exagero no desejo pela gravidez, querendo ultrapassar os limites biológicos naturais (menopausa). Se não existe impedimento para ajudar na gravidez mediante as técnicas citadas, também não existe propriamente um direito a ter filhos.
A tradição luterana incentiva a construção da família estável, contudo, há restrições em relação à doação de sêmen e óvulos por terceiros, uma vez que uma criança deveria ser concebida com o óvulo da mãe e o sêmen do pai, com os quais conviverá em família após o nascimento e, de certo modo, mesmo antes. A família é constituída pelos relacionamentos pessoais, mas também pelo laço genético. Se não for possível conceber um filho biológico, recomenda-se a adoção de uma criança.